O lado bom dos sentimentos “negativos”
Passamos a vida a ouvir, tanto no âmbito pessoal quanto profissional, que sorrir é o melhor remédio e como é fundamental sempre olhar o lado positivo das coisas. Porém, indo de encontro a toda essa “good vibes”, algumas pesquisas mostram o lado bom de alguns sentimentos chamados de “negativos”, tais como o arrependimento e a raiva.
A Psicologia Positiva e a forma de olhar o mundo
De acordo com a PUC/RS, o objetivo da Psicologia Positiva é possibilitar uma transformação na Psicologia, saindo da preocupação em reparar o que está ruim para a construção do que promove bem-estar e qualidade de vida.
Ou seja, não se trata de ignorar o que não funciona, mas sim destacar e valorizar o que está funcionando bem. Por essa razão, o seu estudo é focado na felicidade, em como as pessoas podem se tornar mais satisfeitas. Ao invés de se concentrar nas disfunções e fraquezas, concentram-se no que é funcional e forte.
Mas há evidências que sugerem que essa abordagem tem um lado negativo, é o que explica os professores da Universidade de Lancaster. Talvez o conselho mais comum dado pelos psicólogos positivos seja que devemos aproveitar o dia e viver o momento. Fazer isso nos ajuda a ser mais positivos e evitar três estados emocionais, que os professores chamam de emoções RAW:
- Regret: arrependimento
- Anger: raiva
- Worry: preocupação
A importância do arrependimento, da raiva e da preocupação
Basicamente, o tipo de abordagem mais positiva sugere que evitemos nos concentrar demais em arrependimentos e raiva sobre o passado ou preocupações com o futuro.
Porém, os professores destacam que a psicologia humana é evolutivamente programada para viver no passado e no futuro. Como assim? Enquanto outras espécies têm instintos e reflexos para ajudar na sobrevivência, a sobrevivência humana depende muito do aprendizado e do planejamento.
Assim, a gente não pode aprender sem reviver o passado e não pode planejar sem pensar no futuro.
O arrependimento, por exemplo, que pode nos fazer sofrer ao refletir sobre o passado, é um mecanismo mental indispensável para aprender com os próprios erros e evitar repeti-los.
Além disso, se não nos preocuparmos com o futuro, talvez nem nos preocupemos em adquirir uma educação, assumir a responsabilidade por nossa saúde ou armazenar alimentos.
Assim como o arrependimento e a preocupação, a raiva também é uma emoção instrumental. Ela nos protege contra abusos de outros indivíduos e motiva as pessoas ao nosso redor a respeitar os nossos interesses.
A importância do pessimismo defensivo
Uma pesquisa mostrou que um certo grau de raiva nas negociações pode ser útil, levando a melhores resultados. Além disso, essa mesma pesquisa mostrou que os humores negativos, em geral, podem ser bastante úteis.
Estudos estimam que 80% das pessoas no ocidente, de fato, têm um viés de otimismo, o que significa que aprendemos mais com experiências positivas do que com negativas. Isso pode levar a algumas decisões mal pensadas, como colocar todos os nossos fundos em um projeto com poucas chances de sucesso. Então, realmente precisamos ser ainda mais otimistas todo o tempo?
Isso não significa que é para nos tornarmos mal-humorados ao longo do dia. O excesso de otimismo pode levar a uma confiança exacerbada, que pode trazer consequências negativas para diversos momentos, inclusive profissional.
Pelo contrário, um pessimismo mais defensivo pode fazer com que a pessoa se prepare ainda mais, trazendo uma vantagem estratégica na hora de ultrapassar determinados obstáculos.
Por isso, se você tem seus momentos de pessimismo, não se preocupe: isso pode ter até um lado positivo!
Para saber mais:
Alessandra Giovana
Trabalha há 18 anos com Inteligência de Mercado (nacional e internacional) e Marketing de Conteúdo, criando estratégias baseadas em dados para diversos tipos de negócios. Além disso, atua como professora universitária na graduação e na pós-graduação há mais de 16 anos.